terça-feira, 13 de setembro de 2016
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
...minhas amigas, as fadas...
num dia de férias de verão fui tomar o pequeno-almoço com a carla a um café de almada. no café há uma estante com livros. podemos trazer um ou mais livros em troca de alimentos para distribuir a quem precisa. eu trouxe este "maria tonta como eu" da maria rosa colaço. identifiquei-me com o titulo, vá-se lá saber porquê..., trouxe-o para casa como quem traz um tesouro escondido e deseja chegar a casa o mais depressa possível para explorar à vontade o que encontrou.
depressa percebi que o tesouro era mais valioso do que imaginara. chorei do inicio ao fim. chorei de comoção, de saudades, de me reencontrar.
"...rua acima, com o peito cheio de amizade e a boca perfumada de casca de limão."
"Não sei se já reparaste alguma vez ao que sabe dizer - «Até logo, mãe!» - mas é muito bom dizer isso, logo de manhã, e levar o sorriso da nossa Mãe dentro dos olhos como se leva o lápis afiado e os livros novos dentro da pasta."
"Na rua o que encontramos?
Rostos amigos, carros de mula, gatos sonolentos, paz."
"A minha vida é feita de coisas pequenas e frágeis: o canário, o Tomba-Lobos, o sorriso de minha Mãe. Se fico sem estes pequenos fios, sinto-me perdida, num mundo que não entendo e me dói. É isso!"
"Fizemos a açorda no alguidar de amassar o pão. Nunca me lembro de ter sido tão feliz. O poder dispor de qualquer coisa e compartilhá-la com tanta gente, naquela naturalidade espontânea, o ter alhos e coentros e um alguidar de barro que chegasse para todos comerem era muito bom."
"Maio é o mês em que não há nada, não há ninguém que consiga por-me triste. É um mês de desatino. Desatino é uma palavra que se calhar nunca ouviste mas que pertence ao Maio da minha terra e dela fazem parte as abelhas e as papoilas e as Maias das quais eu sou rainha."
"Acho que não sei nenhuma palavra para descrever essa coroa. Mas era como se fosse feita de sol e pétalas. Tinha todo o perfume de Maio maduro, das searas fartas, do pão e alegria para todos. Sentia-me então compensada do sacrifício porque acabava de passar."
"Tão linda que, uma vez, o Joel me disse:
- Pareces mesmo uma Maria-Primavera! E os teus olhos aí, entre essas coroas de flores são duas andorinhas pousadas!"
"A vida tem várias faces que se abrem como portas.
Há portas por onde passamos facilmente: têm a nossa altura ou pouco mais, são pintadas de cores claras, têm um batente onde se carrega e donde sai uma música agradável a dizer, entra! és bem vinda! O que se vê para além delas é legível e fácil. Aconchegado. Harmonioso.
Há outras que se abrem como as portas dos contos de fada: abrem-se em silêncio, sem ninguém lhes tocar, sem rostos nem vozes a darem as boas-vindas e fica-se à espera do milagre ou do dragão, ou do gigante que nos virão assustar. Olhamos essas portas, ficamos cheios de curiosidade mas temos medo de entrar. Temos medo de descobrir e entender o que se passa para lá delas porque, o que se passa para lá delas tira-nos a vontade de rir, as palavras claras, os gestos espontâneos.
São portas que nos ensinam a dúvida.
Deixamos de ser crianças e isso - ah! isso, é que nunca. Logo que alguém te vier com esse truque de dizer-te - cresce e aparece! - tu, some-te! Não cresças! E desaparece. Para longe dessas portas de dúvida e silêncio, com gente que não acredita em sonhos nem na Amizade.
Foge dos devoradores de risos, dos que bebem sozinhos a água fresca das fontes e não sabem compartilhar nem o pão, nem as lágrimas, nem a coragem.
Mas a vida ainda tem outras portas: portas fechadas. Portas que, por mais que se deseje entrar, permanecem frias, indiferentes ao nosso apelo. Andamos à volta dessas portas, levamos os braços carregados de flores e a boca cheia de sorrisos e palavras mansas; acariciamos os batentes, espreitamos pelo vidro fosco das janelas. São portas que não se abrem. Fica-se triste e cheio de lágrimas. Nada as comove. São portas fechadas, surdas, frias. Muros de pedra e cal."
"...e em vez de ADEUS! diria apenas:
Até Logo, Mãe."
depressa percebi que o tesouro era mais valioso do que imaginara. chorei do inicio ao fim. chorei de comoção, de saudades, de me reencontrar.
MARIA-TONTA
como eu
Maria Rosa Colaço
"Não sei se já reparaste alguma vez ao que sabe dizer - «Até logo, mãe!» - mas é muito bom dizer isso, logo de manhã, e levar o sorriso da nossa Mãe dentro dos olhos como se leva o lápis afiado e os livros novos dentro da pasta."
"Na rua o que encontramos?
Rostos amigos, carros de mula, gatos sonolentos, paz."
"A minha vida é feita de coisas pequenas e frágeis: o canário, o Tomba-Lobos, o sorriso de minha Mãe. Se fico sem estes pequenos fios, sinto-me perdida, num mundo que não entendo e me dói. É isso!"
"Fizemos a açorda no alguidar de amassar o pão. Nunca me lembro de ter sido tão feliz. O poder dispor de qualquer coisa e compartilhá-la com tanta gente, naquela naturalidade espontânea, o ter alhos e coentros e um alguidar de barro que chegasse para todos comerem era muito bom."
"Maio é o mês em que não há nada, não há ninguém que consiga por-me triste. É um mês de desatino. Desatino é uma palavra que se calhar nunca ouviste mas que pertence ao Maio da minha terra e dela fazem parte as abelhas e as papoilas e as Maias das quais eu sou rainha."
"Acho que não sei nenhuma palavra para descrever essa coroa. Mas era como se fosse feita de sol e pétalas. Tinha todo o perfume de Maio maduro, das searas fartas, do pão e alegria para todos. Sentia-me então compensada do sacrifício porque acabava de passar."
"Tão linda que, uma vez, o Joel me disse:
- Pareces mesmo uma Maria-Primavera! E os teus olhos aí, entre essas coroas de flores são duas andorinhas pousadas!"
"A vida tem várias faces que se abrem como portas.
Há portas por onde passamos facilmente: têm a nossa altura ou pouco mais, são pintadas de cores claras, têm um batente onde se carrega e donde sai uma música agradável a dizer, entra! és bem vinda! O que se vê para além delas é legível e fácil. Aconchegado. Harmonioso.
Há outras que se abrem como as portas dos contos de fada: abrem-se em silêncio, sem ninguém lhes tocar, sem rostos nem vozes a darem as boas-vindas e fica-se à espera do milagre ou do dragão, ou do gigante que nos virão assustar. Olhamos essas portas, ficamos cheios de curiosidade mas temos medo de entrar. Temos medo de descobrir e entender o que se passa para lá delas porque, o que se passa para lá delas tira-nos a vontade de rir, as palavras claras, os gestos espontâneos.
São portas que nos ensinam a dúvida.
Deixamos de ser crianças e isso - ah! isso, é que nunca. Logo que alguém te vier com esse truque de dizer-te - cresce e aparece! - tu, some-te! Não cresças! E desaparece. Para longe dessas portas de dúvida e silêncio, com gente que não acredita em sonhos nem na Amizade.
Foge dos devoradores de risos, dos que bebem sozinhos a água fresca das fontes e não sabem compartilhar nem o pão, nem as lágrimas, nem a coragem.
Mas a vida ainda tem outras portas: portas fechadas. Portas que, por mais que se deseje entrar, permanecem frias, indiferentes ao nosso apelo. Andamos à volta dessas portas, levamos os braços carregados de flores e a boca cheia de sorrisos e palavras mansas; acariciamos os batentes, espreitamos pelo vidro fosco das janelas. São portas que não se abrem. Fica-se triste e cheio de lágrimas. Nada as comove. São portas fechadas, surdas, frias. Muros de pedra e cal."
"...e em vez de ADEUS! diria apenas:
Até Logo, Mãe."
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