quarta-feira, 20 de julho de 2016

lost photos

one of this days while «cleaning» my computer i found a paste with a huge amount of (lost) photos, mostly flowers. it was 7 years ago. i was discovering the posibilities of my new camera and used to carry it with me every day. didn't want to loose any chances if beauty crossed my way...







































sábado, 16 de julho de 2016

...minhas amigas, as fadas...


  "Ter amor por um cão é uma coisa escandalosa.
  Será impossível determinar com um mínimo de segurança em que medida é que as nossas relações com outrem resultam dos nossos sentimentos, do nosso amor, do nosso desamor, da nossa benevolência ou do nosso ódio, e em que medida é que estão previamente condicionadas pelas relações de forças existentes entre os indivíduos.
  A verdadeira bondade do homem só pode manifestar-se em toda a sua pureza e em toda a sua liberdade com aqueles que não representam força nenhuma. O verdadeiro teste moral da humanidade (o teste mais radical, aquele que por se situar a um nível tão profundo nos escapa ao olhar) são as suas relações com quem se encontra à sua mercê: isto é, com os animais. E foi aí que se deu o maior fracasso do homem, o desaire fundamental que está na origem de todos os outros.
  A nostalgia do Paraíso é o desejo que o homem tem de não ser homem.
  Como explicar que as menstruações de uma cadela despertassem em si uma tal ternura, quando até pela sua própria menstruação tinha repugnância? A resposta parece-me fácil: é que o cão nunca foi expulso do Paraíso. Karenine desconhece totalmente a dualidade do corpo e da alma e não sabe o que é ter repugnância. Por isso Tereza se sente tão bem e tão calma ao pé dele (...)
  Do caos profundo destas ideias, nasce no espírito de Tereza um pensamento blasfemo de que não consegue livrar-se: o amor que a une a Karenine é melhor do que o amor que existe entre ela e Tomas. Melhor, e não maior. Tereza não quer culpar nenhum dos dois, nem Tomas nem ela, não quer dizer que eles poderiam amar-se mais. Parece-lhe é que o casal humano foi criado de tal forma que o amor do homem e da mulher é à priori de uma natureza inferior áquela que pode ter (pelo menos na melhor das suas variantes) o amor entre o homem e o cão, essa estranha coisa da história do homem que o criador não previu.
  É um amor desinteressado: Tereza não quer nada de Karenine. Nem sequer exige que ele a ame. Nunca se atormentou com as perguntas que torturam os homens e as mulheres: gostará ele de mim? Já terá amado alguém mais do que me ama a mim? Amar-me-á mais do que eu o amo? Todas estas interrogações que questionam o amor, que o medem, que o perscrutam, o inspeccionam, não se arriscarão a matá-lo na casca? Se somos incapazes de amar, talvez seja por desejarmos ser amados, ou seja, por querermos alguma coisa do outro (o seu amor), em vez de chegarmos junto dele sem reivindicações, e não querermos senão a sua simples presença.
  E ainda há mais uma coisa: Tereza aceitou Karenine tal qual é, não tentou modificá-lo, deu a sua anuência prévia ao seu universo de cão, não quer confiscar-lho, não tem ciumes das suas tendências secretas. Se o educou, não foi com intenção de modificá-lo (como um homem sempre quer modificar a sua mulher e uma mulher o seu homem), mas simplesmente para lhe ensinar a língua elementar que havia de permitir-lhes compreenderem-se e viverem os dois juntos.
  E também: o seu amor pelo cão é um amor voluntário, ninguém a obrigou a isso. Tereza pensa uma vez mais na mãe, e tem muita pena dela: se a mãe fosse uma daquelas desconhecidas da aldeia, talvez a sua jovial grosseria lhe parecesse simpatia! Tereza sempre teve desde criança uma grande vergonha por a mãe ter ocupado os traços do seu rosto e confiscado o seu eu. E o pior é que o imperativo milenar que nos manda amar pai e mãe a forçava a aceitar essa ocupação, a chamar amor a essa agressão! A mãe não é culpada de Tereza ter rompido com ela. Não rompeu com a mãe por ela ser como era, mas por ser sua mãe.
  Mas sobretudo: nenhum ser humano pode presentear outro com um idílio. Só o animal pode fazê-lo porque não foi expulso do Paraíso. O amor entre o homem e o cão é idílico. É um amor sem conflitos, sem cenas dilacerantes, sem evolução. Karenine ia traçando em torno de Tereza e Tomas o circulo da sua vida fundada na repetição e também esperaria o mesmo deles.
  Nesta frase encontra-se resumida toda a maldição do homem. O tempo humano não anda em circulo, mas avança em linha recta. Por isso o homem não pode ser feliz: a felicidade é desejo de repetição."

in "A Insustentável Leveza do Ser" de Milan Kundera